quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Memórias, Parte 1/2

Me olho no espelho


     Estou Chorando, olho no espelho e não reconheço a mascara que jaz sobre o rosto de quem uma vez fui. Tento fugir do meu passado vivendo cada dia sobre essa diferente personalidade, mas já devia saber que não posso fugir para sempre.
     -Vamos linda, papai tem que ir. Vamos mais rápido ok? Igualzinho a festa surpresa do seu irmão. Faz silêncio ok? ninguém pode saber.
     Essa mascara marcada pelas expressões que os anos esculpiram agora não expressa mais nada. Não sente mais nada.
     -Pronto, fica aqui viu linda? Papai tem que achar seu irmão, não faz nenhum barulho ok? quietinha. - o pai beijou a testa da filha e desejou que fosse apenas um sonho, que em pouco tempo acordaria e nada daquilo teria acontecido - Papai ja volta ok? Lembra, igual a festa surpresa.
     Ainda posso ouvir como o silêncio foi quebrado pelos gritos agudos e sons abafados de golpes penetravam seus ouvidos como agulhas, e eu... não, ele ficava ali, impotente.
     Ele corria, não podia deixar a filha sozinha, porem tampouco podia deixar seu filho, precisava encontra-lo.
     Uma lágrima escorre pelas fissuras do meu rosto, marcas de idade de lutas passadas, amores passados, enquanto minha mente repete que tais sentimentos não existem e que esse não sou eu meu corpo me trai.
     Filho! finalmente te encontrei! Rápido, vem, precisamos ir pegar sua irmã, a gente ta jogando pique esconde, se você não achar ela você vai perder. Vem cá, tenho certeza que eu ouvi alguma coisa por ali!
      Esta máscara velha há anos ja sobrepôs aquele antigo rosto, os, ja escassos, cabelos brancos substituíam a antiga cabeleira loira que povoava seu couro cabeludo, sua altura agora escondida por uma corcunda, a única coisa que restava da antiga identidade, chamada "perfeita", eram os olhos azuis, estes nunca pararam de mostrar a todos quem uma vez fui.
     -Esconde! - Cochicou o homem para o filho - Shhh, escutei alguma coisa.
     Eles não eram assim, eles tinham que ter puxado a mãe. A culpa era dela.
     Cobria os ouvidos do filho que perguntava constantemente- o que que ta acontecendo papai? - mas o pai não tinha ouvidos para isso.
    Não, ela não tinha culpa, você deixou sua mulher pra ter filhos e fazer uma vida com uma garota qualquer, isso era uma punição divina, deus te estava punindo, a culpa foi dele!
     O pai só tinha ouvidos para os sons, chorava com as mãos nos ouvidos do filho, cada golpe abafado como uma punhalada no peito, os gritos agudos como galhos perfurando os ouvido e ele ali, débil, impotente, petrificado, devia fugir mas era incapaz, estava estagnado com as mãos sobre as orelhas do filho confuso com a situação.
     Você sempre fica remoendo isso, tentando jogar a culpa de um para outro, não é tão simples como uma punição divina, a culpa é sua, você fez errado, você não previu o que estava óbvio, você não fugiu não fez nada.
     Um soldado abandonou o edifício, desceu as escadas com um sorriso no rosto, ele estava sozinho, passou a poucos metros do homem, ele podia mata-lo, não seria difícil, ele o pegaria de surpresa, o soldado continuou a andar e a oportunidade felizmente passou, mata-lo seria imprudente, não podia deixar seu filho só, uma vez que o soldado virou a esquina o pai correu escada acima, entrou no edifício apenas para que mais lágrimas escorressem dos seus olhos, ninguém nunca deveria experienciar uma coisa dessas, mas agora era tarde.

Parte dois: http://bahliricopt.blogspot.com.br/
Creditos Para Bah Sovan